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quinta-feira, 10 de março de 2011

Apolo Filosofo Cristão por Huberto Rohden


Apolo Filosofo Cristão parte 2

É possível que Apolo tenha sido discípulo de Filo, o que definiria sobejamente sua atitude em face do cristianismo, a sua religião era cristianismo de elegância platônica, ressentindo-se, porém, da ausência de profundidade mística, entusiástico admirador da ética do Nazareno. Pregava por toda a parte a adoração de Deus em espírito e verdade, “FALAVA COM ARDENTE ENTUSIAMO” diz o narrador Lucas, dava ensinamentos exatos a respeito de Jesus Cristo, embora não conhecesse senão o Batismo de João. Ai esta uma caracterização tão concisa quão enigmática dessa entranha personagem. Apolo conhecia a fundo, parece, o lado histórico da vida de Cristo; sabia provar, com admirável perspicácia e arrebatadora eloqüência, a messiandade de Jesus, mas não lhe penetrava ainda a alma divina; o sentido transcendente da sua morte, o renascimento e ressurreição, espiritual do cristão, a união mística do cristo com o homem. O misterioso sopro do espírito da verdade enviada pelo Messias, tudo isso lhe era ignoto ou vago.
Mal chegava Apolo a Éfeso, logo os cristãos daí o clamaram seu chefe e guia espiritual. Falava na sinagoga e em praça publica. Uma sensação!Ouvintes de todas as classes sociais e de todos os credos o escutavam. Paulo como disse, não estava em Éfeso, nesse tempo, Áquila e Priscila foram assistir às famosas conferencias filosóficas do grande orador. O que ouviram foi uma deslumbrante apoteose do Cristo. O Messias vaticinado pelos profetas. As tão excelsas alturas se elevaram os surtos intelectuais do vigoroso Apologista Alexandrino que o piedoso casal nem sempre podia seguir-lhe vôos metafísicos. O genial paralelismo que Apolo estabeleceu entre o LÓGOS da filosofia e o Cristo do Evangelho arrebatou a classe mais erudita dos seus ouvintes.
Áquila e Priscila admiravam sinceramente a inteligência, a facunda e o odealismo religioso do conferencista, mas não se sentiam plenamente satisfeitos. Faltava aos discursos de Apolo alguma coisa... um elemento sagrado...aquele fogo divino que ardia sempre no fundo dos sermãos de Paulo, parecia rasgar todos os véus da materialidade e descortinar novos mundos de beleza sobrenatural. Os discípulos de Apolo eram profundos e geniais, porém, unilateralmente intelectualistas, faltava-lhes sacralidade.
(unção) mística que constitui a suprema harmonia da ciência e da fé.
Apolo insistia mais na agnosis conhecimento do que da pistis Fé.
No fim de um destes discursos, Áquila e Priscila felicitaram o orador e o convidou para uma visita à sua modesta vivenda. Desde então travou-se estreita amizade entre o genial intelectualista Alexandrino e o simpático casal de operários vindos de Corinto. O filosofo ávido de ulteriores conhecimento sobre a pessoa e doutrina do nazareno, vinha todo o dia e passava horas na tenda dos tecelões por entre os tapetes de varias cores, os escuros novelos de pelo caprino e o primitivo tear. Enquanto Áquila acionava velozmente a lançadeira, Priscila, inteligente e discreta catequista expunha ao seu dócil discípulo as grandes verdades e divinas belezas do Evangelho, que ouvira dos lábios de Paulo e meditava sem cessar.
Quando foi o cristianismo tão belo, tão atraente, tão ele mesmo, como nestes primeiros tempos, quando os seus discípulos eram uma só alma e um só coração? Quando um
Famoso filosofo se sentava aos pés de uma singela operária e bebia dos seus lábios dos seus lábios as águas da vivas do Evangelho? E essas almas, sintonizadas pela mesma onda de idealismo empreendedor saíam pelo mundo afora a iluminar os espíritos e acalentar os corações com o fogo que cristo viera lançar a terra.
Lucas é bem o pintor entre os Evangelistas; se dele não possuímos tela colorida, possuímos uma verdadeira galeria de painéis literários de incomparável encanto e plasticidade.
Dessas catequeses no bazar dos tecelões saiu o filosofo platônico, perfeito teólogo cristão; daí saiu ele com a sua “gnosis” divinizada pela “pistis”; foi ai que lhe nasceu a perfeita sintonia da razão e da Fé.
Quando Áquila e Priscila falaram a Apolo da florescente vida religiosa em Corinto, manifestou nele o desejo de conhecer de perto essa cristandade. E, na primeira oportunidade, embarcou para Acaia com uma carta de recomendação aos presbíteros da igreja em Corinto.
Parece que nesta cidade Apolo foi recebido oficialmente na igreja.
“Ai chegado-diz o historiador-prestou excelentes serviços aos féis, graças aos seus talentos, por que rebatia vigorosamente os Judeus em público, demonstrando pela Escritura ser Jesus o Messias”.
Tão vasto foi a repercussão de seus discursos que em breve se tornara o tema obrigatório de todas as conversas em Corinto. Falava ao ar livre, por que não havia local na cidade que comportasse a multidão dos ouvintes.
“Este, sim, é o nosso homem!” exclamavam os “intelectuais” de Corinto. Não é como aquele Paulo, que de filosofia nada entende, aquele bárbaro, sem estilo nem retórica... Este sim!...Orador para a elite. “Era isto que faltava em Corinto...”.
E logo se formaram dois partidos: Eu sou partido de Apolo! Eu também! Eu sou de Paulo!
Apolo perspicaz e sincero, logo percebeu o perigo de uma cisão entre os neófitos de Corinto e para evitar tão grande mal resolveu embarcar para Ásia. Prova da integridade do seu caráter e da lealdade das suas intenções.

Texto extraído do livro Paulo de Tarso
Paginas 210, 211, 212, 213, 214, 215,
O maior Bandeirante do Evangelho
Escrito por HUMBERTO ROHDEN
Editora Martim Claret.

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